O Barnabas Today Brasil inaugurou uma série de textos baseados em passagens bíblicas para fins de meditação, para que em suas orações devocionais nossos leitores desenvolvam também o hábito de serem guiados pelas Escrituras. Durante estas semanas, estamos explorando os quinze Cânticos de Romagem, dos Salmos 120 até Salmos 134.
Salmos 127 – O Senhor É Quem Edifica, Guarda e Satisfaz
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam.”
Quantas histórias já ouvimos ou testemunhamos de homens e mulheres que pareciam ser bem-sucedidos em todas áreas de sua vida, com casamentos aparentemente sólidos, carreira profissional reconhecida e rentável, vida social ativa e irrepreensível, e, repentinamente, tudo desmoronou? De uma hora para outra a família vem a ruir, seus filhos caem em rebeldia, brigas familiares irrompem, passam por separação e divórcio, ou até mesmo perdem sua reputação quando um fato escondido há anos vem ao conhecimento público. Há também casos de homens de negócio que trabalham duro suas vidas inteiras, para no final, seja por um erro próprio, ou de outros contra eles, ou por infortúnio do mercado, acabam pobres, mesmo depois de tanto trabalho duro e longa diligência. Pense também nas cidades fortificadas ou grandes nações da história, mas que hoje não representam mais nada, perderam sua influência, ou, parecendo imbatíveis na guerra, foram invadidas e destruídas.
O Salmo 127 é uma composição de Salomão, um rei reconhecido não somente por sua singular sabedoria e inteligência, mas também pelo império que administrou a partir da cidade de Jerusalém, e pelas grandes construções de seu tempo, inclusive o Templo que substitui o Tabernáculo. Ele nos faz esse alerta sobre a futilidade do esforço humano em empreendimentos que não contam com a participação de Deus.
Isso não significa que não devemos nos esforçar, sermos diligentes e preparados. Jesus afirmou que “o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Mateus 11.12). Acerca da diligência, quando falou sobre o custo do discipulado, no sentido de que é necessário cada um tomar a sua própria cruz para segui-lo, Jesus usou as duas ilustrações desse Salmo: construção e guerra. No primeiro exemplo, Jesus questiona, quem não se assenta primeiro para calcular a despesa de uma construção e verificar se tem os meios para concluir; e na segunda ilustração, Jesus cita a hipótese de um rei que, antes de sair para o combate, calcula se poderá enfrentar um exército maior, para que, caso contrário, proponha termos de paz (Lucas 14.28-32).
Logo, o ensinamento de Salmos 127 não é a favor da preguiça ou falta de diligência e vigilância, mas sim sobre a futilidade de depositar a confiança em nossos próprios esforços. Salomão tem três livros na Bíblia, entre eles dois de sabedoria. Provérbios é um livro que coloca como regra os frutos de nossos atos: quem assim faz, alcançará tal consequência – boa ou ruim, de acordo com suas escolhas, conforme sua sabedoria ou falta dela. Eclesiastes, por sua vez, é uma observação da futilidade da vida, e um dos motivos apontados é justamente a falta de capacidade do ser humano de controlar os resultados de seus próprios empreendimentos. Assim diz: “Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?” (Eclesiastes 1.2-3).
É interessante que tanto a casa como a cidade podem ser sinônimos de lar. A casa é o abrigo da vida, e a cidade é onde a vida acontece. Tanto sua construção como sua proteção são vãs se o Senhor delas não participar. Portanto, neste Salmo, Salomão está nos convidando a descansar no Senhor todo nosso trabalho e nossa vigilância, pois é só ele que pode garantir o bom desfecho, seja na edificação da casa ou na proteção da cidade.
O salmista também nos lembra que se o Senhor não é parte do nosso labor diário, pouco proveito haverá em acordar cedo e trabalhar até o fim do dia para comer o pão que merecemos. Veja que o pão é justamente ganho, porém o ponto aqui é que não há satisfação de alma quando se enxerga a recompensa como fruto unicamente do esforço humano. O “pão nosso de cada dai-nos hoje” é uma oração que deve nos acompanhar em cada gota de suor do nosso trabalho, reconhecendo que é Deus que nos dá o alimento através do nosso esforço, mas esse esforço pode ser insuficiente para garanti-lo, e pode vir a tornar-se vazio mesmo quando bem-sucedido. Sem o senso de dependência e gratidão, o pão pode até alimentar o estômago, mas irá esvaziar o espírito. O sucesso sem Deus é como um cão perseguindo o rabo, ainda que o alcance, morde apenas para sentir a dor que infringe a si mesmo.
“Aos seus amados ele o dá enquanto dormem”. Essa promessa é confrontadora para todos aqueles que fazem dos esforços pessoais o seu porto seguro. Todavia, os que confiam seu sustento em Deus sabem a medida certa de trabalho para não se frustrarem em sua própria exaustão, pois entendem que o Senhor trabalha por eles enquanto repousam.
Em cada área de nossas vidas o descanso cumpre uma função. Relaxar pode ser um desafio, mas se descansar fosse fácil, não seria um mandamento. É preciso obedecer. É necessário aprender a descansar. O workaholic que não chega em casa em tempo para cuidar do cônjuge e dos filhos, pagará o preço de um lar quebrado mais adiante. O cristão que ignora que domingo é dia de adoração comunitária com a Igreja, logo estará sedento de alma e faminto da Palavra que sustenta o espírito.
Os versículos 3 a 5 falam do galardão da vida, os filhos. O salmista diz que filhos são herança do Senhor. Ora, herança é algo que ganhamos pelo qual não trabalhamos, mas que nos é dado por vínculo de paternidade e filiação. Mais uma vez, uma lembrança de que nossos esforços pouco ou nada podem fazer para garantir o que nos importa. Filhos são como flechas nas mãos do guerreiro, que lançadas com direção, alçam seu próprio caminho e lutam por quem os lançou. Uma aljava cheia dessas flechas honrará o homem quando que se encontrar em posição de julgamento perante os seus adversários.
Leia o Salmo 127 pausadamente. Enquanto lê, ore pedindo a Deus que não te deixe cair na futilidade do esforço humano. Busque sabedoria do alto para que em sua jornada diária, nos afazeres do dia a dia e na administração do lar você possa reconhecer a dependência de Deus para o êxito de tudo aquilo que você está construindo em sua vida. Reflita e ore sobre a importância do descanso diário, de separar o Domingo para ir à igreja, de descansar suas finanças em dízimos e ofertas a cada vez que receber o seu salário. Peça a Deus por ajuda na educação dos filhos e no relacionamento com seu cônjuge. Enfim, coloque suas preocupações e pedidos pessoais diante de Deus, tirando de suas costas o peso do esforço humano e da justiça própria.
Salmos 127
Cântico de Romagem. De Salomão.
1 Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
2 Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem.
3 Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão.
4 Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade.
5 Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta.