O Barnabas Today Brasil inaugurou uma série de textos devocionais a fim de encorajar nossos leitores a orar com o auxílio das Escrituras. Nestas semanas estamos refletindo nos quinze Cânticos de Romagem, dos Salmos 120 até Salmos 134.
Salmos 133 – Como É Boa a Comunhão
“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!”
O filme “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata” mostra um pouco da história da Ilha Britânica de Guernsey durante a ocupação nazista, quando as fazendas locais tiveram seus animais confiscados para alimentação dos soldados alemães. A dieta dos moradores da ilha ficou, obviamente, bastante limitada, e esses passaram a ter batatas como principal fonte de alimentação.[i] Certa noite, Dawsey Adams, um criador de porcos local, a quem foi ordenado que plantasse batatas, estava finalizando sua refeição de sopa de batata, quando recebeu um bilhete por baixo de sua porta, com a seguinte nota: “traga a faca de açougueiro”. Era um bilhete com as iniciais de suas vizinhas, Amelia e Elizabeth.
Ao chegar na casa onde as duas mulheres estavam, elas lhe mostraram uma porca que haviam escondido por um bom tempo, e a qual Elizabeth teve a ideia de, agora, preparar para um jantar. Após matarem e assarem a porca, ao apreciar o agradável aroma, Adams, que narra os acontecimentos daquela noite, diz:
“Estávamos com fome, mas foi Elizabeth que percebeu do que estávamos realmente famintos: de conexão, da companhia de outras pessoas, de comunhão”.
Eles, então, convidaram outros vizinhos e um deles, o sr. Eben, responsável pelo posto de correios da cidade, trouxe uma torta com sua receita original de batata e casca de batata (daí o nome da sociedade literária e do filme). Adams continua:
“Nós nos conhecíamos um pouco, é claro, mas não tão bem assim. Era Elizabeth quem conhecíamos em comum. Por poucas horas, ela nos fez esquecer a ocupação, os alemães, a guerra, tudo que havíamos perdido, para nos lembrar de nossa humanidade”.
O Salmo 133, como um cântico de romagem, certamente despertava um momento de grande alegria para os peregrinos viajando a Jerusalém para as festas anuais. Imagine as vozes acompanhadas do som de palmas, tamborim e, talvez, instrumentos de sopro e corda, enquanto amigos e parentes caminhavam pelas estradas rumo a Sião, cantando: “Como é bom estarmos unidos!”. Essa é uma cena que nos passa uma ilustração muito bonita de nossa jornada como povo de Deus na Igreja de Cristo. Em comunhão nós andamos e celebramos juntos a nossa unidade. E quando assim o fazemos, tal qual diz o personagem do filme acima citado, esquecemos as lutas, as perdas, e somos lembrados de nossa humanidade.
A humanidade foi criada com uma natureza social, à imagem e semelhança de seu Criador. Deus é um ser social, sendo um só Deus e três pessoas distintas da mesma substância: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Deus é a comunidade que vive em perfeita harmonia e se satisfaz em si mesma. Desse modo, o ser humano é um indivíduo, distinto de seu semelhante, mas também ligado pela sociedade humana, da qual está inevitavelmente vinculado. Quando Deus fala “não é bom que o homem esteja só”, estava falando não somente a respeito da necessidade de criar uma companheira que lhe fosse adequada, mas também que sendo criado à sua imagem e semelhança, haveria de ter semelhantes com quem pudesse ter comunhão. Assim, criou Eva, com quem Adão se uniu, e se multiplicaram fazendo da humanidade uma larga comunidade que encheu a terra.
O pecado trouxe muitas dificuldades na relação social dos homens. Contudo, não apagou a imagem de Deus em si, e o ser humano continua sedento por comunhão. Por isso, fomentá-la faz com que as pessoas relembrem de sua humanidade. Jesus veio para viver uma vida perfeita e nos ensinar que o amor a Deus e o amor ao próximo é o maior dos mandamentos. Ele nos reconcilia não somente com o Deus Trino Criador, mas também com nosso semelhante.
O versículo 2 de Salmos 133, diz que quando os irmãos vivem unidos é como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce para a barba de Arão e para gola de suas vestes. Essa unção sacerdotal derramada em abundância trazia um perfume agradável. Assim é a adoração comunitária quando há unidade no povo de Deus. O verso 3 diz que essa união é como orvalho do monte Hermom, o qual é conhecido por grande precipitação de orvalho refrescante que se espalhava pela região. Assim Deus ordena benção e vida eterna para Seu povo.[ii]
Por isso, a Bíblia toda enfatiza a necessidade de os membros do Corpo de Cristo andarem juntos, como ensina o autor da carta ao Hebreus (10.25): “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. O próprio Cristo nos deu o exemplo, sendo um frequentador da sinagoga e estando sempre junto à mesa de comunhão em refeição com aqueles que estava discipulando enquanto levava a mensagem do Evangelho. A instituição da ceia carrega em si esse significado, de sermos lembrados do sacrifício de Cristo e das promessas de sua volta enquanto partilharmos do alimento: o pão e o vinho. Jesus nos convida, assim, a saciar a fome mais profunda do ser humano, a fome por comunhão.
Leia Salmos 133. Medite em como é bom estarmos em comunhão com a Igreja e uns com os outros, em relacionamento saudável com a família e amigos que cruzam nossas vidas. Traga à memória tempos e situações em que você pôde superar problemas ou ajudar outros a superá-los através da amizade. Agradeça a Deus por Jesus Cristo, que nos uniu em um só corpo.
Salmos 133
Cântico de Romagem. De Davi.
- Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!
- É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.
- É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre.[iii]
[i] Trecho sobre o filme retirado do artigo “A mesa da comunhão e a torta de casca de batata”, do mesmo autor, publicado em 2018. Disponível em: https://blog.teomidia.com/a-mesa-da-comunhao-e-a-torta-de-casca-de-batata. Acesso em 03 de março de 2023.
[ii] Notas da Bíblia de Genebra sobre versículos 2 e 3 de Salmos 133.
[iii] Bíblia Edição Revista e Atualizada.