“Os néscios são mortos por seu desvio.”
A pessoa inconstante. Todos nós conhecemos uma. Se formos sinceros, a vemos todos os dias quando nos olhamos no espelho. O fato é que em nossos pensamentos e desejos, não há constância alguma em nosso coração. Assim, o verso 20 desse primeiro capítulo de Provérbios personifica a Sabedoria como alguém que sai gritando nas ruas, clamando nos muros e na entrada da cidade e dentro profere alarmes, pedindo a atenção de todos.
Apesar de geralmente interpretamos a necedade como uma mera falta de inteligência, a ideia dessa palavra na Bíblia é mais ampla do que a ausência de conhecimento. Diz respeito também à simplicidade que é fruto da inocência, da ingenuidade e da inexperiência. Por isso o verso 32 afirma que “os néscios são mortos por seu desvio”. A Nova Versão Internacional da Bíblia traduz esse verso desta maneira: “Pois a inconstância dos inexperientes os matará”; e a Almeida Corrigida e fiel diz que: “Porque o erro dos simples os matará”.
Muitas vezes queremos nos esconder em nossa ingenuidade e tentamos justificar nossos erros em nossa pouca esperteza ou “falta de malandragem”. Contudo, ainda que malandragem não seja uma virtude, a Bíblia mesmo diz que simplicidade também não é virtuosa quando desacompanhada de astúcia.
Jesus mesmo disse que nos envia “como ovelhas para o meio de lobos”, e por essa razão, portanto, devemos ser “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mateus 10.16). Ingenuidade é aceitável para uma criança, mas não cai bem para os adultos. Prudência, astúcia e inteligência são sinais que acompanham a maturidade, tanto pessoal como espiritual. O autor da epístola aos Hebreus ensina que “todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança”. E ele continua: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”.
Como porém, podemos aprender a sermos astutos ou prudentes? O próprio livro de Provérbios responde em seus primeiros versículos, capítulo 1, de 1 a 7:
Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel. Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso. Ouça o sábio e cresça em prudência e o instruído adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios. O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.
É a sabedoria que dá aos símplices prudência e aos jovens o bom discernimento. Portanto, podemos dizer que é o temor e a Palavra de Deus que nos ensinam a não sermos ingênuos, ou demasiadamente inocentes nas coisas importantes da vida. Há um ditado que bem resume isso: “crente deve ser bom, mas não pode ser bobo”. Não temos o direito de nos desculpar pela nossa falta de prudência ou astúcia quando cometemos um erro causado por nossa ingenuidade. Podemos ser inocentes quanto ao fato, mas não seremos inocentes pela falta de discernimento que nos levou a tomar decisões erradas. Continuar a praticar atos temerários é, como diz o verso 22, amar a necedade.
Leia essa última parte do primeiro capítulo de Provérbios. Reflita sobre sua vida, sobre quando você caiu e errou por falta de prudência ou por causa de sua necedade. Pense sobre como você amadureceu pelas consequências desse erro, e peça a Deus que use dessa experiência para lhe santificar. Agradeça a Deus pela proteção até mesmo quando você pagou o preço pela simplicidade em demasia. Tiago 1.5 diz que “se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”. Peça, enfim, ao Senhor, que lhe dê sabedoria, inteligência, conhecimento, humildade e ousadia para crescer em prudência, discernimento e constância de vida.
Provérbios 1.20-32
20 Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz;
21 do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras:
22 Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?
23 Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.
24 Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não houve quem atendesse;
25 antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão;
26 também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei,
27 em vindo o vosso terror como a tempestade, em vindo a vossa perdição como o redemoinho, quando vos chegar o aperto e a angústia.
28 Então, me invocarão, mas eu não responderei; procurar-me-ão, porém não me hão de achar.
29 Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do Senhor;
30 não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão.
31Portanto, comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão.
32 Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição.
33 Mas o que me der ouvidos habitará seguro, tranquilo e sem temor do mal.[i]
[i] Bíblia Edição Revista e Atualizada.
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