“Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.”
Quem cresceu em um lar com irmãos (ou tem crianças pequenas em casa) sabe o quanto é importante para a educação dos filhos ensiná-los a confessar um erro e pedir perdão. É muito comum a didática de chamar os irmãos brigados e fazer com que um ou outro assuma o erro, peça perdão e que os dois deem um abraço para demonstrar que está tudo resolvido. A coisa mais difícil nessas situações é quebrar o orgulho. E, certamente, isso não vale apenas para crianças sendo educadas enquanto crescem. Desafiar o orgulho para confessar o erro é um desafio para a vida inteira.
Em Salmos 32, Davi expõe o seu alívio diante de Deus quando foi finalmente capaz de quebrar o seu orgulho. Considera-se que este salmo foi escrito quando de seu pecado de adultério com Bate-Seba, esposa do oficial de guerra Urias. Tal qual Adão e Eva tentaram se esconder de Deus atrás dos arbustos logo após comer o fruto proibido, o ciclo de disfarce do pecado de Davi começou tão logo executou o pecado.
Ao descobrir que Bate-Seba estava grávida, mandou buscar o seu marido para que ficasse em casa para dar a entender que o filho não era fruto de adultério. Porém, Urias não aceitou dormir em casa enquanto seus companheiros sofriam as agruras da guerra. Falhou a primeira tentativa de esconder o pecado. Então, o rei ordenou a Joabe que colocasse Urias na frente de batalha, para aumentar sua probabilidade de ser morto. Ao receber a notícia de que Urias havia, de fato, morrido, casou-se com Bate-Seba.
O que mais choca nessa história, e que não está explícito no texto, é que certamente o nascimento do bebê, que acabou falecendo em seus primeiros dias de vida, ocorreu em um tempo que todos sabiam que Urias não esteve com sua esposa. Ao assassinar Urias e casar-se com Bate-Seba, tornou-se ainda mais evidente diante de todos a sua quebra do sexto e sétimo mandamentos: adultério e assassinato. Sua tentativa de encobrir a iniquidade apenas o deixara mais exposto. Até que, confrontado pelo profeta Natã, o rei caiu em si.
Ao contrário de nossa literatura ocidental, o ápice da poesia hebraica era apresentada em seu início, e não ao final como uma conclusão. Assim, Davi, logo no verso 1, diz: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”. Se antes ele tentava cobrir o pecado com subterfúgios, tramas e artimanhas, ao ser trazido ao arrependimento, Davi compreendeu que é melhor buscar o perdão e ter o pecado coberto por Deus, não por seus próprios disfarces. Ele percebeu que estava adoecendo e envelhecendo, e que sua vida se tornara em gemidos. No verso 7, Davi declara: “Tu és o meu esconderijo”. Não mais confusão, drama e tramas, mas o refúgio dele tornou-se o Senhor.
Ao morrer na cruz, Jesus estendeu seus braços para esconder os nossos pecados. Não precisamos mais fingir ou esconder. Não precisamos mais nos envergonhar. Não precisamos prejudicar outras pessoas para nos fazer parecer melhores. O perdão de Cristo é suficiente. O ímpio continuará sofrendo, mas os que confiam no Senhor experimentam graça e a misericórdia.
Ao ler o Salmo 32, peça para Deus revelar o seu pecado e busque arrependimento. Arrependa-se de tentar esconder o seu pecado. Arrependa-se de não confiar no perdão de Deus. Arrependa-se de não descansar nos braços de Cristo, abertos em seu favor na maldita cruz, que se tornou bendita para te dar paz em Suas pisaduras.
Salmos 32
¹ Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto.
² Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo.
³ Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.
⁴ Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.
⁵ Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado.
⁶ Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder encontrar-te. Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o atingirão.
⁷ Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento.
⁸ Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho.
⁹ Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem.
¹⁰ Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no Senhor, a misericórdia o assistirá.
¹¹ Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração.
* Versão ARA – Almeida Revista e Atualizada
