“A gratidão, porém, é um sacrifício que de fato me honra.”
É comum pensarmos em sacrifício como algo que irá custar ou pesar muito para quem o oferece. Geralmente, ligamos ao ato de abrir mão de algo, à oferta em dinheiro, ou uma ação que é difícil de executar. Se pensarmos em um contexto do Antigo Testamento, certamente seremos levados a imaginar o abatimento de animais para perdão de pecados. Contudo, poucas vezes somos levados a considerar a gratidão como um sacrifício. Mais incomum ainda é enxergarmos a gratidão como sacrifício que honra a Deus.
O sacrifício de ações de graças era um dos tipos de oferta pacíficas (Levítico 7.11ss), a fim de expressar a gratidão pela ajuda recebida em situações difíceis. Esse tipo de sacrifício deveria ser acompanhado de bolos sem fermento misturados com azeite, pães finos sem fermento untados com azeite e bolos feitos de farinha da melhor qualidade misturada com azeite, além de pães preparados com fermento.
Nos Salmos 50, o Senhor chama toda a humanidade para contemplar sua beleza do monte Sião. Do monte, o Senhor julga aqueles que com Ele fizeram uma “aliança de oferta de sacrifícios”, e então lança a base de suas acusações. O problema, como fica claro no versículo 8, não são os sacrifícios ou holocaustos, pois ao Senhor já pertence cada um dos animais oferecidos. Ele apenas deseja um coração grato:
9 Não preciso, contudo, dos novilhos de seus estábulos,
nem dos bodes de seus currais.
10 Pois são meus todos os animais dos bosques,
e sou dono do gado nos milhares de colinas.
A Deus pertence o mundo, e tudo que nele há (v. 12). E o Senhor não é homem para que coma carne de touro ou beba sangue de bodes. Ele faz, então, o chamado que aponta para o erro daqueles que com Ele têm uma aliança: eles não tinham o coração grato e não eram pessoas que cumpriam os seus votos. As ofertas de votos eram outro tipo de sacrifício, que também tinham o propósito de expressar gratidão quando uma oração era atendida por Deus. Assim, a pessoa, após ter recebido uma resposta positiva de seus pedidos de oração, deveria sacrificar para agradecer, conforme prometera que faria pela graça alcançada. Contudo, nem por livramento em tempos de dificuldade e nem mesmo por preces atendidas o povo de Deus estava lembrando de prestar ações de graças. E o Senhor colocou isso como uma condição para que agora eles fossem atendidos:
14 Ofereçam a Deus seu sacrifício de gratidão
e cumpram os votos que fizerem ao Altíssimo.
15 Então clamem a mim em tempos de aflição;
eu os livrarei, e vocês me darão glória.”
Deus, então, começa a revelar a perversidade do coração desses homens, cuja ingratidão não passava da exteriorização de sua maldade:
16 Ao perverso, porém, Deus diz:
“De que adianta recitar meus decretos
e falar a respeito de minha aliança?
17 Pois você recusa minha disciplina
e trata minhas palavras como lixo.
18 Quando vê ladrões, aprova o que fazem
e passa seu tempo com adúlteros.
19 Sua boca está cheia de maldade,
e sua língua, repleta de mentiras.
20 Vive a caluniar seu irmão,
filho de sua própria mãe.
21 Enquanto você assim agia, permaneci calado,
e você pensou que éramos iguais.
O Senhor chama ao arrependimento diante dessas acusações (v. 22), para que Ele mesmo não venha a despedaça-los. E, então, traz a palavra de encorajamento:
23 A gratidão, porém, é um sacrifício que de fato me honra;
se permanecerem em meus caminhos, eu lhes revelarei a salvação de Deus”.
Para Deus, gratidão é fruto de um coração arrependido, conforme João Batista pregou para seus seguidores: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. A salvação é trazida e revelada para aqueles que sabem o lugar e a importância de oferecer ações de graças. Não é em vão que em Levítico há a previsão desse tipo de oferta. Também não é à toa que o Novo Testamento está cheio de palavras de ações de graças e de encorajamento à gratidão. Paulo ensina aos Tessalonicenses (5.18) que “Sejam gratos em todas as circunstâncias, pois essa é a vontade de Deus para vocês em Cristo”, seguido por um alerta: “Não apaguem o Espírito”. O apóstolo também costumava agradecer pela vida de seus discípulos: “Todas as vezes que penso em vocês, dou graças a meu Deus”.
Existe um provérbio popular que diz que a murmuração é o louvor do diabo, e a gratidão é o louvor a Deus. E isso faz muito sentido, no momento em que a gratidão glorifica a Deus e o seu oposto é a murmuração, que o desonra e acaba servindo aos propósitos do inimigo. Ter um coração grato, contudo, não exige esforço ou peso, apesar de Deus aceitar como uma oferta de sacrifício. Gratidão agrada muito a Deus, eleva o nosso espírito e glorifica ao nosso Senhor.
Enquanto lê o Salmo 50, faça uma reflexão de onde você tem deixado de agradecer a Deus, lembre-se de cada livramento e cada voto feito. Faça uma oração de ações de graça como oferta que honra e glorifica ao nosso Senhor.
Salmos 50*
1 O Senhor, o Deus Poderoso, falou;
convocou toda a humanidade,
desde onde o sol nasce até onde se põe.
2 Do monte Sião, lugar de perfeita beleza,
Deus resplandece.
3 Nosso Deus se aproxima
e não está em silêncio.
Fogo devora tudo em seu caminho,
e ao seu redor há uma grande tempestade.
4 Ele convoca os céus em cima e a terra embaixo,
para testemunharem o julgamento de seu povo.
5 “Tragam aqui os que me são fiéis,
os que fizeram comigo uma aliança de oferta de sacrifícios.”
6 Então, que os céus proclamem sua justiça,
pois o próprio Deus será o juiz.
7 “Ó meu povo, ouça o que direi,
estas são minhas acusações contra você, ó Israel:
Eu sou Deus, o seu Deus!
8 Não o reprovo por seus sacrifícios,
nem pelos holocaustos que sempre oferecem.
9 Não preciso, contudo, dos novilhos de seus estábulos,
nem dos bodes de seus currais.
10 Pois são meus todos os animais dos bosques,
e sou dono do gado nos milhares de colinas.
11 Conheço cada pássaro dos montes,
e todos os animais dos campos me pertencem.
12 Se eu tivesse fome, não lhes diria,
pois meu é o mundo inteiro e tudo que nele há.
13 Acaso como a carne de touros
ou bebo o sangue de bodes?
14 Ofereçam a Deus seu sacrifício de gratidão
e cumpram os votos que fizerem ao Altíssimo.
15 Então clamem a mim em tempos de aflição;
eu os livrarei,
e vocês me darão glória.”
16 Ao perverso, porém, Deus diz:
“De que adianta recitar meus decretos
e falar a respeito de minha aliança?
17 Pois você recusa minha disciplina
e trata minhas palavras como lixo.
18 Quando vê ladrões, aprova o que fazem
e passa seu tempo com adúlteros.
19 Sua boca está cheia de maldade,
e sua língua, repleta de mentiras.
20 Vive a caluniar seu irmão,
filho de sua própria mãe.
21 Enquanto você assim agia, permaneci calado,
e você pensou que éramos iguais.
Agora, porém, o repreenderei;
contra você apresentarei minhas acusações.
22 Pensem bem e arrependam-se
todos vocês que de mim se esquecem;
caso contrário, eu os despedaçarei
e ninguém os ajudará.
23 A gratidão, porém, é um sacrifício que de fato me honra;
se permanecerem em meus caminhos,
eu lhes revelarei a salvação de Deus”.
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